Tirem esses espelhos
da minha frente, tire esses pentes das mãos dos nossos filhos.
Nós sabemos que vocês estão escondidos atrás da
sombra do meu pau-brasil, sei que em seus bolsos estão escondidos pedras do
nosso ouro. Não precisamos desses machados, pois não iremos cortar nenhuma
arvore da nossa terra-mãe, aqui ninguém
precisa de seus costumes, não queremos nos contaminar com suas pestes, nós
temos uma vida, mais que isso temos uma terra que nos gera vida; se aceitarmos esses presentes em poucos
séculos perderemos nossas matas para a agricultura, perderemos nossos rios para
a poluição destruidora de vossos esgotos, se aceitarmos esses presentes em
pouco tempo perderemos nossas riquezas naturais, e nada vai faze-las voltar.
Pra que aceitar essas minharias? Pensam vocês
que realmente não estamos vendo atrás desses sorrisos uma sombra de morte? Sim
estamos vendo e ja sabemos que nada é sem interesses tudo que vem de vocês, e
seus interesses são mortíferos, logo sabemos que extrairão para longe da nossa
pátria toda a riqueza que ela produz.
Não queremos suas benfeitorias, de que ela nos serve? Não queremos industrias
alimentícias, pois tudo que necessitamos para nosso sustento a nossa terra-mãe
nos dar sem destruir nada, não queremos também industria textil em nosso solo,
pois andamos despido, não nos envergonhamos disso andamos despido de roupas
sim, mas acima de tudo andamos despidos de interesses destruidores que vem
junto com suas industrias de poluições. Não queremos a praticidade da vida
moderna em detrimento da sustentabilidade de nossas matas, rios, lagos, e
ocenaos cheios de vidas.
Agora convido-vos
a entrarem em seus barcos, tomem o caminho de volta, e desejamos uma viagem sem
percalços e que sintam-se bem servido em
nos conhecer, conhecer nossas raizes, nossos valores, nossos princípios. Ao chegar do outro lado deste imenso oceano
que vocês também digam aos vossos filhos que aqui temos os nossos e queremos
profundamente que essas gerações se perpetuem sobre o solo da nossa terra-mãe,
por isso eu vos digo; Tirem da nossa frente esses espelhos, esses pentes, esses
machados, esses perfumes, pois diga-se de passagem o perfume que temos exalados
pelas nossas florestas, nossos jardins continentais são puros e inalamos vida a
partir deles.
Sou índio, sou
gente, sou feliz, sou da terra.
Este texto foi escrito por um indio morto
ainda no ventre de sua mãe, sim, ele queria que tudo fosse diferente, mas por
ironia do destino o que sabemos dele é
só esse texto.
Por: Samuel
Gonçalves