terça-feira, 25 de setembro de 2012

RECEPÇÃO INDÍGENA



                        
                                     


     

     Tirem esses espelhos da minha frente, tire esses pentes das mãos dos nossos filhos.
     Nós  sabemos que vocês estão escondidos atrás da sombra do meu pau-brasil, sei que em seus bolsos estão escondidos pedras do nosso ouro. Não precisamos desses machados, pois não iremos cortar nenhuma arvore  da nossa terra-mãe, aqui ninguém precisa de seus costumes, não queremos nos contaminar com suas pestes, nós temos uma vida, mais que isso temos uma terra que nos gera vida;  se aceitarmos esses presentes em poucos séculos perderemos nossas matas para a agricultura, perderemos nossos rios para a poluição destruidora de vossos esgotos, se aceitarmos esses presentes em pouco tempo perderemos nossas riquezas naturais, e nada vai faze-las voltar.
     Pra que aceitar essas minharias? Pensam vocês que realmente não estamos vendo atrás desses sorrisos uma sombra de morte? Sim estamos vendo e ja sabemos que nada é sem interesses tudo que vem de vocês, e seus interesses são mortíferos, logo sabemos que extrairão para longe da nossa pátria toda a riqueza que ela  produz. Não queremos suas benfeitorias, de que ela nos serve? Não queremos industrias alimentícias, pois tudo que necessitamos para nosso sustento a nossa terra-mãe nos dar sem destruir nada, não queremos também industria textil em nosso solo, pois andamos despido, não nos envergonhamos disso andamos despido de roupas sim, mas acima de tudo andamos despidos de interesses destruidores que vem junto com suas industrias de poluições. Não queremos a praticidade da vida moderna em detrimento da sustentabilidade de nossas matas, rios, lagos, e ocenaos cheios de vidas.
     Agora convido-vos a entrarem em seus barcos, tomem o caminho de volta, e desejamos uma viagem sem percalços  e que sintam-se bem servido em nos conhecer, conhecer nossas raizes, nossos valores, nossos princípios.  Ao chegar do outro lado deste imenso oceano que vocês também digam aos vossos filhos que aqui temos os nossos e queremos profundamente que essas gerações se perpetuem sobre o solo da nossa terra-mãe, por isso eu vos digo; Tirem da nossa frente esses espelhos, esses pentes, esses machados, esses perfumes, pois diga-se de passagem o perfume que temos exalados pelas nossas florestas, nossos jardins continentais são puros e inalamos vida a partir deles.
       Sou índio, sou gente, sou feliz, sou da terra.
     Este texto foi escrito por um indio morto ainda no ventre de sua mãe, sim, ele queria que tudo fosse diferente, mas por ironia do destino o que sabemos dele  é só esse texto.


                                                                        Por:   Samuel Gonçalves